O PODER FEMININO

“Ansiosa por entender e integrar a essência da Deusa em minha vida cotidiana, passei a observar meu comportamento e minhas respostas à vida com um desejo sincero de erguer-me acima do medo e da autonegação.”

Em minha caminhada diária e experiências de consultório, percebo as mulheres a minha volta fugindo de sua essência divina, de forma sistemática, assumindo papeis em um mundo onde os verdadeiros valores femininos foram sufocados por um estilo de vida em que ser mulher aos moldes antigos é lamentavelmente visto como algo degradante. Neste meu processo interior de autodescoberta como Deusa, Mãe e demais arquétipos do sagrado feminino, assumi o compromisso com o despertar consciente meu e das mulheres que por mim passam, propondo carinhosamente um caminho de satisfação, aceitação e honestidade para com seus mais secretos anseios. Acolher essa mulher que adormeceu ante os esmagadores ditames da sociedade em que vivemos, tornou-se urgente. O planeta precisa que a mulher assuma seu verdadeiro destino de Mater, precisamos retomar nosso poder do Feminino Divino situada no mais alto nível de nossas almas e reconhecê-la como fonte de amor incondicional presente igualmente nas trevas, na Luz e na natureza como um todo. A nossa integridade quanto Deusas precisa ser resgatada, e todas as oportunidades de conscientização devem ser tratadas com total entrega, embora isso muitas vezes nos pareça altamente desafiador. Não seria assustador se pudéssemos de fato acessar essa nossa ancestralidade feminina, buscando uma maior integração desta, com a mulher moderna que nos exige malabarismos cotidianos. Todas nós sofremos com o peso do acúmulo de obrigações, e sentimos dificuldades em desacelerar o passo para então ouvir os chamados em nossos corações. Como muitas outras mulheres, eu também me entreguei a uma maratona de autosuperação, sem me dar à oportunidade de saudar os ritmos naturais de minha fêmea que foi aos poucos se tornando totalmente obstinada e voluntariosa. Nada de mal haveria, se o desenrolar dos fatos em nossas vidas não apontassem o contrário do que queríamos, nos mostrando que nossos objetivos de liberdade e autonomia esbarraram no que de mais valioso temos, nossa capacidade de autogeração. Somos o cálice divino, a manifestação física do útero primordial, e isso foi aos poucos se desvanecendo, e fomos perdendo o contato com esse poder essencial de recriar. Nos fixamos em nossos objetivos maternais e materiais e nos esquecemos de nossa capacidade de transcender os limites físicos e de gerar tudo e não só filhos em nossos ventres. A negação do nosso poder nos foi imposta pela austeridade masculina e o encalço religioso, onde mulheres consideradas bruxas por seus dons naturais, eram incendiadas nas fogueiras da inquisição. Nossa intuição nata foi sabotada, esmagada e vinculada a algo demoníaco, quando na verdade é plenamente divina. Nos plantaram culpas, e por esse motivo nos afastamos de nossa real natureza, que agora grita em cada uma de nós. Precisamos agora perder o medo e a culpa, e com coragem mergulharmos no obscuro de nossos seres, nos resgatando em meio às cinzas das fogueiras históricas.

A Grande Deusa nos acolhe no santuário de nossos corpos sagrados, Somos Deusas e vamos honrar nossos Templos com sabedoria, fazendo-nos respeitar pela natureza divina que nos habita.

Todas às vezes que duvidar de sua força olhe para a Lua, ela é o recipiente do mistério divino. Que possamos beber do útero da Deusa Lua e desvendar os segredos da sua eterna sucessão de ciclos. Nossos corpos e nossas consciências refletem a essência dos ciclos de nascimento, morte e renascimento. Nossos corações e nossas almas resplandecem com essa eterna e abençoada luz. E assim a separação acaba e nos lembramos de Quem realmente somos.

“Antes do princípio só existia o Grande Útero Primordial, descansando em profundo êxtase, pleno e completo em si mesmo. Não havia absolutamente nenhum movimento, mas ainda assim ele continha todas as possibilidades de vida, num estado de gestação profunda...”

Valeska de Gracia